A oração – [S. John Henry Newman)
O QUE É, ENTÃO, A ORAÇÃO? É (se se pode dizer reverentemente) conversar com Deus. Conversamos com nossos semelhantes, e usamos uma linguagem familiar, porque são nossos semelhantes. Conversamos com Deus, e então usamos a linguagem mais humilde, calma e concisa que podemos, porque Ele é Deus. Assim, pois, a oração é conversação divina, que se diferencia da humana tanto como Deus se diferencia do homem. Por isso São Paulo dizia: “Nossa conversação está no Céu” (Fl 3,20), certamente não se referindo com isto somente à conversação com palavras, mas à relação e ao tipo de vida em geral; e sem dúvida de modo especial a conversação com palavras é oração, pois a linguagem é o meio específico de toda relação. Nossa relação com nossos semelhantes não avança por meio da vista, mas por meio do som, não através dos olhos, mas das orelhas. O ouvido é o sentido social, e a linguagem é o vínculo social. Da mesma forma, como a conversação do cristão está no céu, e posto que é seu dever, junto com Henoc* e os demais santos, caminhar com Deus, assim sua voz está no céu, seu coração “transmitindo boas palavras” de orações e louvores. As orações e os louvores com seu modo de relação com o mundo futuro, como a conversação e negócios ou de recreio é o modo em que este mundo segue avante em todas as suas direções distintas. Aquele que não reza não reclama sua cidadania no céu, mas vive, apesar de ser herdeiro do Reino, como se fosse filho da terra.
(S. John Henry Newman – Sermões Paroquiais, IV, 15)

*(Henoc – Filho de Caim (Gn 4,17) e também de Jared (Gn 5,18), pai de Matusalém (Gn 5, 21), Henoc é um modelo de fidelidade e perseverança no caminho de Deus, tanto que foi arrebatado ao Céu (Gn 5, 24). Outras passagens da Escritura que se referem a ele: Eclo 44, 16; 49, 14. Hbr 11, 5. Jd 5).
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