Ação de graças – [ Santo Agostinho ]
SENHOR, GRAÇAS TE SEJAM DADAS, excelentíssimo e ótimo Criador e Governador do universo, nosso Deus, mesmo que te limitasses a me fazer apenas menino. Porque, mesmo então, eu existia, vivia, sentia, cuidava de minha integridade, vestígio de tua secretíssima unidade, fonte de minha existência.
Guardava também, com o sentido interior, a integridade dos outros sentidos, e me deleitava com a verdade nos pequenos pensamentos que formava sobre coisas pequenas. Não queria que me enganassem, tinha boa memória, e me ia instruindo com a conversação. Alegrava-me com a amizade, fugia à dor, ao desprezo, à ignorância. Que há em uma criatura assim que não seja digno de admiração e de louvor? Pois todas estas coisas são dons de meu Deus, que eu não dei a mim mesmo. E todos são bons, e tudo isso era eu.
O que me criou, portanto, é bom, e ele próprio é o meu bem; a ele quero enaltecer por todos estes bens que integravam meu ser de criança. Eu então pecava em buscar em mim próprio e nas demais criaturas, e não nele, os deleites, grandezas e verdades, razão pela qual caía logo em dores, confusões e erros.
Graças a ti, minha doçura, minha esperança e meu Deus, graças a ti por teus dons; que eles fiquem, porém, sob tua guarda. Assim me guardarás também a mim, e se aumentarão e aperfeiçoarão os dons que me deste, e eu estarei contigo, porque também me deste a existência.
(Santo Agostinho de Hipona – Confissões, livro I, cap. XX).
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